Turbante, todo mundo pode usar?
- Adnes Sousa, Beatriz Oliveira
- 19 de ago. de 2017
- 3 min de leitura
A utilização de símbolos da cultura negra por pessoas brancas divide opiniões nas redes digitais

A apropriação cultural tem sido mencionada em sites de notícias e redes digitais, principalmente porque artistas de grande visibilidade como Justin Bieber, Miley Cyrus e Katy Perry tiveram seus nomes envolvidos na discussão sobre essa temática, ao fazer uso de elementos de uma cultura que originalmente não lhes pertence. O debate gerou uma divisão entre os internautas sobre quando o uso de objetos de outras culturas torna-se algo ofensivo.
No Brasil, a pauta é controversa. Em fevereiro, Thauane Cordeiro, uma jovem branca que estava usando turbante no transporte público, foi chamada à atenção por duas mulheres negras que a questionaram pelo uso do objeto. Relatado na internet, o episódio teve grande repercussão, com mais de 37 mil compartilhamentos, em que a maioria demonstrou apoio a Thauane.
Segundo a professora e pesquisadora do LAANF (Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo) Denise Cardoso, “este episódio não desvia a atenção para o que é mais importante no movimento negro. Não se trata de um turbante, apenas. Trata-se dos usos que as pessoas podem fazer dele, pois necessita ser utilizado com respeito ao contexto de sua origem”.

Para Maynara Santana, estudante de nutrição e militante negra, "quando se fala de apropriação cultural é importante entender que não se fala do indivíduo". Essa ideia também é contemplada pela fala da professora Denise: “Há empréstimos culturais dos mais variados possíveis e não nos damos conta disso. A questão é estrutural, como o próprio nome diz muito mais complexa e não se limita ao uso deste ou aquele objeto”.
Sobre o uso do turbante por pessoas brancas, a estudante comenta: "Eu, Maynara, já tenho outra leitura que é: eu não vejo problema de pessoas não negras utilizarem turbante, mas existem pessoas negras que são ferrenhas em defender e que acham um absurdo. E eu vou criticar essa pessoa? Não, porque eu entendo a dor dela, eu entendo a vivência dela".
Maynara, que também faz parte do Coletivo de Juventude Negra do Cedenpa (Centro de Estudos e Defesa do Negro no Estado do Pará), destaca a base da resistência a partir da valorização estética, sendo o primeiro passo para a autoaceitação e luta contra o preconceito racial: "Eu acho de extrema importância você conseguir entender o seu papel dentro da sociedade, o seu papel de pessoa preta e onde você está inserido dentro dessa pirâmide social. Para alcançar benefícios não somente pra você, mas conquistar ascensão para sua população”, diz.

O uso desinteressado, ou seja, sem uma visão crítica e a intenção que cada um tem ao usar um objeto de uma determinada cultura são os pontos reveladores sobre quando há desrespeito pelo significado desses objetos ou quando existe um gesto de apoio e aceitação pelos símbolos e pela cultura em torno desses elementos, declara a pesquisadora.
“Por diversas vezes somos levados a agir sem a devida reflexão crítica e agimos expressando nossa alienação. Muitas pessoas usam, por exemplo, camisas com figuras, frases e expressões e nem se dão conta daquilo que portam em suas vestimentas, acessórios ou modos de se comportar. A apropriação cultural se dá quando se “tira” algo de uma cultura e não se dá créditos a quem criou nem se leva em conta o respeito ao contexto em que este algo é aplicado e usado”. Compreender a diversidade, respeitar as diferenças e entender a carga de significado que os elementos têm para os grupos sociais, levará à justiça e a garantia de direito, afirma Denise.
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